terça-feira, 16 de outubro de 2012

Trecho do conto "Os desastres de Sofia"', do livro "Felicidade Clandestina - Clarice Lispector

Pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos,
coubera arrancar de seu coração a flecha farpada.
De chofre explicava-se para que eu nascera com mão dura,
e para que eu nascera sem nojo da dor.
Para que te servem essas unhas longas?
Para te arranhar de morte e para arrancar os teus espinhos mortais,
responde o lobo do homem.
Para que te serve essa cruel boca de fome?
Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor,
já que tenho que te doer, eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada.
Para que te servem essas mãos que ardem e prendem?
Para ficarmos de mãos dadas, pois preciso tanto, tanto,
tanto - uivaram os lobos e olharam intimidados as próprias garras antes de se aconchegarem
um no outro para amar e dormir.

(by Paloma Aimée Ferreira)

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